O BFI foi construído tendo por base a literatura científica conhecida sobre os fatores que explicam os níveis de utilização da bicicleta, aos quais foi adicionado o compromisso político para avaliar o quanto os municípios estão a investir no sentido da promoção da bicicleta e da mobilidade urbana sustentável em geral.

Desta forma, o índice é composto por 5 dimensões (declive, ambiente construído, infraestruturas cicláveis, compromisso político, utilização da bicicleta atual), medidos através de um conjunto de 12 indicadores medidos para os concelhos de Portugal Continental.  Alguns dos indicadores utilizados foram calculados para a área total dos concelhos em estudo mas também apenas para as áreas urbanas respectivas, obtidas através do CORINE Land Cover (CLC) 2012 produzido pela European Environment Agency (EEA) ao abrigo do programa COPERNICUS.

BFI_Pesos_2018_AFigueiredo

Conforme se pode ver na figura, foram atribuídos pesos distintos às 5 dimensões, pelo que o BFI corresponde a uma média ponderada de dos 12 indicadores agregados nas 5 dimensões. Para melhor compreensão e comparação dos valores, as dimensões foram normalizadas numa escala de 0 a 10.

 

Dimensões

1. Declive

A dimensão declive foi obtida através de 2 indicadores, designadamente a percentagem da área do concelho com declive acentuado e a percentagem das áreas urbanas com declive acentuado. Consideraram-se dois limiares nesta análise: declive superior a 5% e declive superior a 10%.

O declive pode contribuir com 15% (um máximo de 1.5 pontos) no total do BFI.

 

2. Ambiente construído

A escolha dos indicadores para representação do ambiente construído foi feita de acordo com as três dimensões (3Ds) que têm efeito na mobilidade em geral e na mobilidade em bicicleta, designadamente a Densidade, a Diversidade e o Desenho urbano (Design).

A Densidade foi obtida através do cálculo das densidades populacionais e habitacionais, tanto nas áreas totais de concelhos como nas áreas urbanas. A Diversidade foi calculada apenas para as áreas urbanas utilizando o número de edifícios e subsecções não exclusivamente habitacionais como medida de heterogeneidade de usos. Por fim o Desenho urbano foi obtido através de dois indicadores de conectividade sendo estes a densidade de nós da rede viária e a dimensão média de bloco (“arco”) da rede viária do concelho, representada através de eixos de via.

Uma vez que a rede viária do Openstreetmap inclui a representação de todas as vias de uma faixa de rodagem, a análise rigorosa de indicadores conectividade fica comprometida, pois dá origem a mais nós (pontos) do que os que representam os cruzamentos existentes. Desta forma, e na ausência de uma rede viária nacional coerente e com igual nível de detalhe para todas as áreas urbanas dos concelhos, foi utilizada, em alternativa, uma adaptação da delimitação da BGRI (INE2011) das áreas urbanas.

O ambiente construído pode contribuir com 30% (um máximo de 3 pontos) no total do BFI.

 

3. Infraestruturas

Actualmente as infraestruturas cicláveis existentes em território nacional são muito reduzidas em número e diversidade. Para efeitos deste estudo optou-se por contabilizar a extensão de ciclovias e a existência de sistemas de bicicletas partilhadas como indicadores desta dimensão.

Relativamente aos indicadores das ciclovias, as mesmas foram relativizadas tendo por base as áreas dos concelhos e o número de habitantes, conseguindo desta forma a relação extensão das ciclovias por território e per capita, o qual permite comparar o valor independentemente da extensão ou dimensão do concelho. Para além destes optou-se ainda por calcular extensão de ciclovias em área urbana, considerando estas a mais prováveis de serem utilizadas em deslocações casa-trabalho, e também o rácio entre a extensão de ciclovias e a extensão de vias urbanas de hierarquia superior, procurando desta forma avaliar as necessidades da rede ciclável segregada.

Quanto aos sistemas de bicicletas partilhadas, apenas se considerou a sua existência sem ter em conta o número total de bicicletas, docas ou extensão territorial do sistema, por falta de dados actualizados e credíveis sobre os sistemas em funcionamento.

As infrastruturas podem contribuir com 25% (um máximo de 2.5 pontos) no total do BFI.

 

4. Compromisso politico

Para efeitos deste estudo, o compromisso político corresponde ao total do investimento realizado pelos municípios em projectos de mobilidade sustentável, obtido através do somatório da contratação efectiva de serviços e empreitadas públicas realizada nos últimos 3 anos. Para tal, foi realizada uma recolha exaustiva de todos os contratos públicos efectuados no ultimo triénio (2015-2017), e posterior identificação dos contratos relacionados com mobilidade sustentável, tendo como fonte o portal Base.

Utilizaram-se 3 indicadores para avaliar esta dimensão: investimento total por área do concelho; investimento total per capita e percentagem do investimento em projectos de mobilidade sustentável sobre o total da despesa do município.

O compromisso político pode contribuir com 15% (um máximo de 1.5 pontos) no total do BFI.

 

5. Utilização da Bicicleta

Se bem que a utilização da bicicleta seja em si mesma a principal medida de avaliação do sucesso da promoção da bicicleta enquanto modo de transporte, no caso concreto da mobilidade em bicicleta é sabido que quantos mais utilizadores houver, maior será a propensão para alguém também se deslocar de bicicleta. Desta forma, a utilização da bicicleta actual foi tida em conta como uma dimensão importante para a avaliação do BFI.

Considerando esta especificidade, a dimensão correspondente ao uso da bicicleta é composta por 3 indicadores retirados dos Censos sendo estes: peso do uso da bicicleta na repartição modalpercentagem de utilizadores de bicicleta que são mulheres e por fim a percentagem de população que se desloca habitualmente em modos activos (aqui entendidos por deslocações a pé, bicicleta ou transporte público).

A utilização da bicicleta pode contribuir com 15% (um máximo de 1.5 pontos) no total do BFI.

 

Fontes dos dados

Todos os dados utilizados para cálculo do BFI são abertos, ou seja, são de livre acesso a qualquer pessoa com software adequado. Esta decisão deve-se a um conjunto de preocupações:

  1. a importância de garantir acesso rápido aos dados necessários sem restrições proprietárias;
  2. a sua característica dinâmica que permite actualizações frequentes dos datasets por grandes comunidades de utilizadores (caso do OpenStreetMap);
  3. a facilidade de correcção e complemento dos dados de base em repositórios comuns;
  4. a importância de desenvolver metodologias científicas assentes em dados abertos como forma de estimular o seu uso, reforçar a sua relevância e permitir a sua replicabilidade noutros contextos.

Esta opção metodológica acarreta algumas limitações, designadamente a cobertura espacial actual dos dados do Openstreetmap poderá apresentar algumas lacunas, sobretudo em áreas de menor densidade populacional. Acreditamos no entanto, e dado a perspectiva de continuidade do projecto, que a aposta neste tipo de repositórios se revelará uma boa decisão, pois gradualmente estas limitações serão reduzidas tendendo para ser um recurso de maior qualidade.

Adicionalmente, consideramos que esta opção metodológica traz em si mesmo uma vantagem visto que o BFI será ele próprio um fornecedor de dados geográficos ao Openstreetmap, uma vez que toda a informação complementar recolhida neste âmbito será adicionada a esta fonte. Desta forma será possível completar o ciclo de consulta e recolha com a inserção e actualização de mais informação.

Caso detecte alguma incorrecção ou omissão de informação, agradecemos que nos contacte.

 

Licença de utilização

O BFI é cedido segundo a licença CC BY-NC-SA (Attribution-NonCommercial-ShareAlike), a qual permite que o BFI seja remisturado, adaptado e utilizado para outros trabalhos com fins não comerciais, desde que seja atribuído o devido crédito e que as novas criações sejam licenciadas ao abrigo de termos idênticos.

Para tal, agradecemos que o BFI seja citado como:

Figueiredo, A.P. e Vale, D.S. (2018) BikeFriendlyIndex – Um indíce para avaliação da amigabilidade de um concelho para a utilização da bicicleta enquanto modo de transporte urbano. Disponível em: www.bikefriendlyindex.com